terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Nova moda no Vale do Silício, 'água crua' é vendida a US$ 37 a garrafa

Empresas da costa oeste dos EUA estão promovendo a nova tendência sob argumentos questionados por especialistas em saúde.




Em alguns supermercados da costa oeste dos Estados Unidos, marcas de água que chegam a custar US$ 36,99 (R$ 118,8) por garrafa de 2,5 litros estão se tornando populares a ponto de frequentemente esgotarem das prateleiras.
Essa água é diferente por não receber nenhum tipo de tratamento ou filtragem. É vendida como "água crua".
Nova moda no Vale do Silício é beber "água crua"
Nova moda no Vale do Silício é beber "água crua" 
 
 
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
 
Coletada diretamente de mananciais, ela é propagandeada como "pura" e cheia de propriedades que beneficiariam a saúde. Uma das marcas, a Live Water, afirma que a "água crua" "hidrata a pele", "reduz as rugas" e "aumenta a flexibilidade e a força das articulações".
A própria página da marca na internet reconhece que nenhuma dessas alegações foi comprovada pelo FDA (Food and Drugs Admnistration), o órgão americano que regula os setores de alimentos e remédios.
Os perigos da água crua
Essa nova febre, no entanto pode ser perigosa: mesmo que a água pareça pura e cristalina, por não passar por nenhum tratamento, ela pode estar contaminada com bactérias, vírus e outros parasitas.
A "água crua" é retirada de fontes naturais
A "água crua" é retirada de fontes naturais 
 
 
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
 
 
"Muitas doenças podem ser transmitidas pela água se ela não receber nenhum tratamento e contiver micróbios ou outros contaminantes", alertou o médico Andrew Pavia, infectologista da Universidade de Utah, no EUA, em um artigo sobre a "água crua". "Se ela não é filtrada, há um risco", escreveu.
Vicent Hill, chefe do departamento de doenças transmitidas pela água do CDC (Center for Disease Control), a entidade americana de controle de doenças, também advertiu para os perigos da nova moda.
"Beber água contaminada pode levar a doenças causadas por micro-organismos como o Cryptosporidium , a Giardia , a Shigella ", disse Hill à BBC Mundo. 


Marcas 

 
Apesar dos riscos, a moda parece estar pegando no Vale do Silício e em outros lugares conhecidos por terem uma população jovem e rica.
A marca Live Water coleta água da fonte Opal Spring, no Estado do Oregon, no noroeste do país. Conhecidos empreendedores do Vale do Silício estão entre seus clientes.
Um dos grandes entusiastas da tendência é o empreendedor Doug Evans, famoso depois da falência da sua start-up Juicero, que vendia máquinas de suco. Em seu Instagram, ele relatou sua "caçada" por fontes naturais de água limpa.
Os entusiastas da "água crua" criticam a água da torneira
Os entusiastas da "água crua" criticam a água da torneira 
 
 
Foto: Getty Images / BBCBrasil.com
 
 
E participar da nova moda não é barato. Mesmo ao comprar a água pela internet é preciso encomendar pelo menos quatro galões de 9 litros, a U$ 16 (R$ 51) cada.
A Live Water diz em sua página que a água é colocada em "recipientes reutilizáveis de vidro sem chumbo" e "transportada rapidamente em contêiners refrigerados" para ser distribuída.
Outra marca de "água crua" é a Tourmaline Spring, do Maine. Bryan Pullen, criador da empresa, diz que toda a água distribuída é testada para verificar se ela é saudável e se atende aos requerimentos do FDA.
A agência de controle exige que os produtores protejam as fontes de água de bactérias e outros contaminantes, que processem, envasem e transportem a água em condições sanitárias adequadas e que apliquem processos de controle de qualidade e análise. 

Cloro e flúor 
 
Para Pullen, "a água de mananciais é muito melhor que a água da torneira, que contém cloro e flúor". As substâncias são adicionadas em pequenas quantidades justamente para eliminar bactérias. O flúor ajuda a fortalecer os dentes.




BBC Brasil  /  Terra