terça-feira, 14 de novembro de 2017

Filha de dono do avião pode ser responsabilizada por acidente, diz advogado da Chapecoense

A suspeita do Ministério Público Federal em Santa Catarina de que a negociação do fretamento da aeronave da LaMia para a Chapecoense teve a participação de uma venezuelana pode apontar uma nova responsabilização sobre o acidente aéreo que deixou 71 mortos há quase um ano, conforme o advogado que representa o time, Tullo Cavalazzi.
Ele disse ao NSC Notícias desta terça-feira (14) que a suspeita do MPF-SC "está dentro de uma linha de investigações, uma das linhas de investigação que a Chapecoense vem acompanhando para que possa ter uma caracterização da responsabilidade. A partir do momento que nós temos assinatura por mais de uma pessoa, essas pessoas também terão responsabilização sobre o acidente". 
No acidente, na madrugada de 29 de novembro de 2016, 71 pessoas morreram e outras seis ficaram feridas. O avião caiu quando estava perto de aterrissar no aeroporto de Medellín, na Colômbia. Relatório preliminar divulgado pela autoridade de aviação civil colombiana apontou que a aeronave estava sem combustível. O relatório final deve ser divulgado na Colômbia nos próximos dias.

Suspeitas do MPF

Os procuradores do MPF-SC encontraram indícios de que a LaMia, a companhia responsável pelo voo, não pertença de fato aos donos que constam do papel, e que dificilmente poderiam arcar com os pagamentos – um deles morreu no acidente e o outro está foragido.
No papel, a LaMia pertence a Miguel Quiroga, que era o piloto do avião e morreu no acidente; e a Marco Antonio Rocha, que está foragido.
Os procuradores do MPF-SC, entretanto, encontraram documentos que apontam que a negociação do fretamento da aeronave com a Chapecoense teve a participação da venezuelana Loredana Albacete.
A venezuelana também é responsável por uma empresa que receberia, por meio de uma conta em Hong Kong, os US$ 140 mil (R$ 459 mil, na cotação mais recente) relativos ao deslocamento até Medellín. Equipe de resgate trabalha entre destroços do avião da LaMia que caiu perto de Medellín, na Colômbia (Foto: Fredy Builes/Reuters)
Equipe de resgate trabalha entre destroços do avião da LaMia que caiu perto de Medellín, na Colômbia (Foto: Fredy Builes/Reuters)
Loredana é filha do ex-senador venezuelano Ricardo Albacete, dono do avião. Ao jornal espanhol "El Confidencial", logo depois do acidente, ele declarou ter apenas arrendado o avião para a LaMia boliviana.
As descobertas denotam "a verossimilhança das suspeitas noticiadas pela imprensa, de que os verdadeiros proprietários dessa companhia aérea possam não ser os bolivianos que figuram em seus atos constitutivos", anotou o Ministério Público Federal. A Procuradoria, porém, não vê relação desse episódio com o acidente. O inquérito foi encaminhado para a Procuradoria Geral da República, para que seja enviado também ao Ministério Público da Colômbia e da Bolívia.
A relação dos Albacete com a negociação do voo pode colocá-los como responsáveis solidários em eventual pedido de indenização na Justiça, afirmam o advogado Eduardo Lemos Barbosa, que representa familiares de vítimas do acidente, e o engenheiro aeronáutico Shailon Ian. Mas caberia à Chapecoense entrar contra ambos na Justiça em um procedimento chamado de "ação de regresso" - quando alguém condenado a pagar indenização aciona uma terceira parte como maneira de ressarcir prejuízos.

Loredana, procurada desde quinta-feira (9), não respondeu - e o procurador do MPF responsável pelo caso está em férias. O G1 não conseguiu contato com Ricardo Albacete.




G1  SC