A suspeita do Ministério Público Federal em Santa Catarina de que a negociação do fretamento da aeronave da LaMia para a Chapecoense teve a participação de uma venezuelana pode apontar uma nova responsabilização sobre o
acidente aéreo que deixou 71 mortos há quase um ano, conforme o advogado
que representa o time, Tullo Cavalazzi.
Ele disse ao NSC Notícias desta
terça-feira (14) que a suspeita do MPF-SC "está dentro de uma linha de
investigações, uma das linhas de investigação que a Chapecoense vem
acompanhando para que possa ter uma caracterização da responsabilidade. A
partir do momento que nós temos assinatura por mais de uma pessoa,
essas pessoas também terão responsabilização sobre o acidente".
No acidente, na madrugada de 29 de novembro de 2016, 71 pessoas morreram e outras seis ficaram feridas.
O avião caiu quando estava perto de aterrissar no aeroporto de
Medellín, na Colômbia. Relatório preliminar divulgado pela autoridade de
aviação civil colombiana apontou que a aeronave estava sem combustível.
O relatório final deve ser divulgado na Colômbia nos próximos dias.
Suspeitas do MPF
Os procuradores do MPF-SC encontraram indícios de que a LaMia, a
companhia responsável pelo voo, não pertença de fato aos donos que
constam do papel, e que dificilmente poderiam arcar com os pagamentos –
um deles morreu no acidente e o outro está foragido.
No papel, a LaMia pertence a Miguel Quiroga, que era o piloto do avião e
morreu no acidente; e a Marco Antonio Rocha, que está foragido.
Os procuradores do MPF-SC, entretanto, encontraram documentos que
apontam que a negociação do fretamento da aeronave com a Chapecoense
teve a participação da venezuelana Loredana Albacete.
A venezuelana também é responsável por uma empresa que receberia, por
meio de uma conta em Hong Kong, os US$ 140 mil (R$ 459 mil, na cotação
mais recente) relativos ao deslocamento até Medellín.
Loredana é filha do ex-senador venezuelano Ricardo Albacete, dono do
avião. Ao jornal espanhol "El Confidencial", logo depois do acidente,
ele declarou ter apenas arrendado o avião para a LaMia boliviana.
As descobertas denotam "a verossimilhança das suspeitas noticiadas pela
imprensa, de que os verdadeiros proprietários dessa companhia aérea
possam não ser os bolivianos que figuram em seus atos constitutivos",
anotou o Ministério Público Federal. A Procuradoria, porém, não vê
relação desse episódio com o acidente. O inquérito foi encaminhado para a
Procuradoria Geral da República, para que seja enviado também ao
Ministério Público da Colômbia e da Bolívia.
A relação dos Albacete com a negociação do voo pode colocá-los como
responsáveis solidários em eventual pedido de indenização na Justiça,
afirmam o advogado Eduardo Lemos Barbosa, que representa familiares de
vítimas do acidente, e o engenheiro aeronáutico Shailon Ian. Mas caberia
à Chapecoense entrar contra ambos na Justiça em um procedimento chamado
de "ação de regresso" - quando alguém condenado a pagar indenização
aciona uma terceira parte como maneira de ressarcir prejuízos.
Loredana, procurada desde quinta-feira (9), não respondeu - e o procurador do MPF responsável pelo caso está em férias. O G1 não conseguiu contato com Ricardo Albacete.
G1 SC