segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Chapecó tem homenagens e ajuda para superar a tragédia

Especialistas apontam que os próximos 15 dias serão difíceis para parentes e amigos das vítimas de acidente aéreo que matou 71 pessoas


Chapecó tem homenagens e ajuda para superar a tragédia Marco Favero/Agencia RBS
Moradores de Chapecó fizeram um abraço coletivo na Arena Condá na tarde de domingo
 
  Foto: Marco Favero / Agencia RBS


Em um dia, a delegação da Chapecoense está voando rumo a Medellín, na Colômbia, para o jogo mais importante de seus 43 anos de história. Chapecó enfeita-se inteirinha com o escudo do clube e faixas de incentivo pela possibilidade de um título inédito. Os moradores desfilam com a camisa da time, orgulhosos. No outro, 71 dos 77 passageiros do avião estão mortos, incluindo jogadores, integrantes da comissão técnica, convidados e profissionais da imprensa local. Decorrida uma semana do desastre, a expectativa de um sonho tornou-se a confirmação de um pesadelo do qual a cidade precisa despertar para encarar a volta à rotina.
Médico de adolescentes com especialização em terapia de família, José Otávio Binato considera que os próximos 15 dias ainda serão de grande pesar e é fundamental respeitar isso – assim como é humanamente compreensível que muitos amigos e familiares continuem prestando homenagens e indo ao cemitério. No entanto, é importante que as instituições tentem, na medida do possível, retomar a normalidade.
— Os poderes públicos fizeram a sua parte, com as solenidades e a organização de todo o processo burocrático e logístico para a realização dos funerais. A partir de agora, é importante não ficar mexendo desnecessariamente nessa ferida, que vai demorar a cicatrizar – diz, com a experiência de quem atuou no atendimento às famílias após o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria (RS), uma tragédia que também envolveu jovens que estavam em um momento festivo e tiveram a vida interrompida.
Desde o dia seguinte ao acidente, o comércio funciona normalmente, com o verde do time tingido pelo preto do luto em vitrines e fachadas. A universidade reabre as portas hoje. Pelas ruas, o uniforme da equipe continua sendo o traje quase obrigatório, em homenagem àqueles que se foram. O choque ganha contornos traumáticos maiores por envolver ídolos, pais, maridos e filhos de um município com 210 mil habitantes, onde todos se conhecem. Segundo o psiquiatra Omar Cassol Jr., que tem família em Chapecó e vive em Florianópolis, a proximidade, o parentesco e os laços de amizade acentuam o sofrimento de cada um.
— No consultório, ouço muito a pergunta: ¿Essa dor vai passar?¿ Costumo dizer que a perda e a saudades são para sempre; mas a dor, não. Em algum momento, ela se torna suportável a ponto de a vida voltar a andar. Retornar à rotina vai depender do estado emocional de cada um. Não adianta ir para o trabalho se você não consegue parar de chorar, por exemplo – diz.


Sensibilidade com as crianças e apoio na fé

 
Cassol explica também que a suspensão das aulas e de outras atividades faz parte da reação da cidade para se proteger e dar espaço para as pessoas assimilarem as perdas individual e coletivamente. O luto coletivo pode auxiliar familiares e amigos, como se a dor fosse diluída por todos. Em relação às crianças, tanto ele quanto Binato rejeitam as ¿mentirinhas¿ para preservá-las. 
– Histórias como ¿o papai está viajando¿ ou ¿foi trabalhar e ainda não voltou¿ não devem ser contadas. Elas podem ser pequenas e não entender tudo o que está acontecendo, mas criança é sensibilidade pura. Procure a linguagem adequada para cada idade e comunique o que ocorreu. Essa é uma função dos pais e responsáveis, mas os professores e as escolas também precisam ter sensibilidade para lidar com o assunto.
Além das indicações dos especialistas, o ministro da igreja católica Renato Colpani receita fé para superar a dor. Ele conduziu o Pai-Nosso rezado pelos cerca de 100 torcedores que se concentraram no portão 12 da Arena Condá às 17h de ontem, mesmos local, horário e dia em que a Chapecoense jogaria contra o Atlético-MG pela última rodada da Série A do Campeonato Brasileiro. 
– Vamos pedir ao Pai do céu que nos conforte, que dê paz às pessoas que perderam seus entes queridos, para que no primeiro jogo que tiver em Chapecó nós fazermos uma festa que essa cidade nunca viu. Tenho certeza de que Aquele que está lá em cima vai tirar todo e esse peso das nossas costas – garantiu, após exortar os participantes a levantarem a cabeça no momento da oração para o mundo ver que eles irão seguir em frente. 
Dali, o grupo partiu para um abraço coletivo na estátua do mascote do time, o índio Condá, e em uma das laterais do estádio. Sempre entoando cânticos do time, os torcedores finalizaram a manifestação diante da loja oficial do clube, onde rezaram novamente. O presidente da torcida organizada Garra Independente, resumiu o sentimento reinante:
– É muito difícil (esquecer a dor). Mas vamos tocar a vida, apoiar a Chapecoense e torcer para que venham jogadores e diretoria tão bons como os que tínhamos.




O Sol Diário